sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Telefonema
É o que sinto agora.
Isaque Galvão (Iris Lopes)
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Quando Eu
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
A.Caeiro
ivo duarte 12ºE
"Passei Toda a Noite"
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar."
Alberto Caeiro
terça-feira, 27 de novembro de 2007
A brisa...
Ricardo Lima, 12ºE Nº12
(Desculpem, eu não sei que não escrevo tão bem quanto muitos de vocês!)
Queria salientar o facto de gostar imenso de vários textos que já li por aqui!
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Do nada «viraste» tudo, e desse tudo, «viraste» 'nada'...
Com o coração dormente...
Só tu me vens à cabeça...
Tudo o que vivemos, tudo o que passamos...
Do nada viraste tudo, e desse tudo, viraste 'nada'...
Foste um sonho...
Eu voei, nesse sonho, voei alto...
Agora estou a chegar ao chão...
Da maneira mais dura, mais cruel...
Dói, «machuca», chega a matar por dentro...
Tudo isto...
Foste uma ilusão, uma miragem...
Por mais que me queria enganar, não conseguirei...
Porque tu...
Só tu!
Foste realmente o meu amor...
J.P.
Surfista
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
só apenas....
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW8gZui7LQ_roQpRe-nD71lzyPowssIXYo_b6c4zlJsPI1nkMdMctSA2_0iyaTvzF3JGcPzHbYWhbIcgnicRGfv7O2ULL7wZOLALEzx63CVnRxtFDZpSDIixkh-k_kO_YXaGAI5lWnfiSa/s400/digo.jpg)
Por tanto tempo a escuridão foi a minha Luz..foi o único caminho que eu sabia percorrer...
O único sabor áspero que tingia os meus lábios...
Sentia-me mergulhado nas minhas próprias lágrimas... sentia-me pouco a pouco a afogar...na neblina escura de mim próprio...
Parecia não quererlargar-me...eu lutei...tentei resistir...ser forte...mas desisti...nem sequer olhei para trás...
Estava cansado de todos aqueles olhares que me atingiam, que me queimavam a alma e a mim...eu continuava só naquele mar de gente...enquanto que por dentro ardia...queria tornar-me real...queria crescer...e cresci...com aqueles olhares e murmúrios que a meu lado me destroiem...me deitam a baixo...a vida que antes era nunca mais é a mesma...nem nunca será...só apenas...
Assinado : Diogo Nuñez
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Sumol Znowtrip 07/08
![](http://i6.tinypic.com/6l1jtb7.jpg)
Para mais informações, contactar: Tomé, 12º B, nº9
Telemóvel: 913610853
http://www.megafinalistas.com/2.htm
A MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA... I
Por todo lado, surge a palavra "benvindo". Em situações particulares, informais, mas também públicas e oficiais. Sempre me fez muita confusão porque "benvindo" não existe sequer na língua portuguesa e, muito menos, nos dicionários. É apenas um nome próprio cujo feminino é "Benvinda".
Se queremos dizer que alguém chegou bem ou como se desejava, que é recebido com prazer, com agrado e satisfação dever-se-á escrever os adjectivos "bem-vindo" ou "bem-vinda", cujos plurais são "bem-vindos" e "bem-vindas", respectivamente.
CC
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...
(Poema de Álvaro de Campos)
Tomé
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
JOSÉ CARDOSO PIRES
![](http://photos1.blogger.com/blogger/1185/1739/400/4226847IAlWVUFekg_ph.0.jpg)
[...]
Finis Terrae
A última Vista da Cidade será uma cortina de gaivotas enfurecidas a levantarem‑se entre mim e o Tejo.
Na altura estarei, ou estou ainda, sentado num café‑snack do Terreiro do Paço junto ao cais dos cacilheiros, com uma larga vidraça a separar‑me do rio. Café Atinel, que nome mais estúpido. Olho as mesas vazias e pergunto‑me por que razão é que um sítio assim, tão privilegiado, consegue estar desconhecido. Por mim não quero outra coisa: barcos que chegam, barcos que partem, gente de entrar e sair a servir‑se ao balcão, e eu sentado em cima do Tejo.
Tal como estou tenho a cidade pelas costas. Comércio, multidão, Europa, fica tudo para trás. Lá as pessoas andam todas a perguntar as horas umas às outras, enquanto que neste reduto para aqui esquecido sabe‑se do correr do dia pelo mudar da cor do Tejo, e não me digam que não é uma felicidade estar‑se assim, à mesa sobre as águas, com gaivotas a saírem‑nos de baixo dos pés e a passarem‑nos a dois palmos dos olhos num bailado de gritaria.
Tempo bom, o desta solidão. Tempo melhor ainda, lembram os eméritos de biblioteca num ulissiponês de fazer inveja, quando se via a olho a nu o Promontório da Lua por toda essa costa além. Tempo, dizem, em que nas margens da Outra Banda havia areias que escorriam ouro (Marco Terêncio fala disso) e pastagens celestes onde as éguas emprenhavam pelo vento. Tempo de poeiras luminosas e lágrimas lunares. E de pérolas. E de tritões. Tritões cantadores como aquele que consta da Descrição da Cidade de Lisboa de Damião de Góis. "Noutros tempos, longos tempos, havia em Lisboa uma sereia..." Conheço uns versos de Robert Desnos que começam desta maneira mas é melhor ficar por aqui porque o Tejo não é de fábula nem de poema e corre sem nostalgias. E Lisboa a mesma coisa, disso podemos estar nós bem seguros. Só que, com o saber dos séculos e os sinais de muito mundo que a perfazem, sugere várias leituras, e daí que a cada visitante sua Lisboa, como tantas vezes se ouve dizer.
Daí também que nós, os que somos dela, lhe estejamos tão errantes na paixão. Um dia pode acontecer que, sentados como agora sobre o rio, a tentemos ler pela voz dos outros e então ainda nos sentiremos mais errantes, mais incertos. Entre uma Lisboa de Tirso de Molina, saudada como a “oitava maravilha”, e a Lisboa de Fielding, o genial, que a amaldiçoou como um pesadelo leproso, correm águas insondáveis. Beckford viveu-a em palácio, Sade inventou-a num cárcere de rancores. “Lisboa oferece uma apreciável variedade de escolhas para um nobre suicídio”, escreveu um dos grandes narradores dela, Antonio Tabucchi. Vozes, tudo vozes. Olhares. Memorações.
Quando por fim fechamos a página onde líamos a cidade, descobrimos que a vidraça do café está toldada por uma dança de gaivotas em turbilhão e que não há Tejo. Que desapareceu por trás duma desordem de asas e já não é prenúncio de oceano.
Então, ternamente, confiadamente, reconhecemo-nos ainda mais ancorados à cidade que nos viu partir.»
BIBLIOGRAFIA:
Os Caminheiros e Outros Contos (Contos), 1949
Histórias de Amor (Contos), 1952
O Anjo Ancorado (Novela), 1958 ; 1990
Cartilha do Marialva, 1960
O Render dos Heróis (Teatro), 1960
Jogos de Azar (Contos), 1963 ; 1993
O Hóspede de Job (Romance), 1963 ; 1992
O Delfim (Romance), 1968 ; 1999
Dinossauro Excelentíssimo (Sátira), 1972
E agora, José ?, 1977
O Burro em Pé (Contos), 1979
Corpo-Delito na Sala de Espelhos, 1980
Balada da Praia dos Cães (Romance), 1982 ; 1989
Alexandra Alpha (Romance), 1987
A República dos Corvos (Contos), 1988
Cardoso Pires por Cardoso Pires (Crónicas), 1991
A Cavalo no Diabo (Crónicas), 1994
De Profundis, Valsa Lenta (Crónicas), 1997
Lisboa, Livro de Bordo (Crónicas), 1997
Dispersos I - Literatura, org. de Vasco Rosa, 2005