quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Quem sou eu? Quem somos nós?


"...Cada momento mudei.
Continuamente me estranho..."

Fernando Pessoa in "Não Sei Quantas Almas Tenho" - (excerto)
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Ignorando o facto de Fernando Pessoa provavelmente sofrer de esquizofrenia com tendência para múltiplas personalidades, pensemos então no que nos é transmitido.
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Como todos sabemos de antemão, Fernando Pessoa passou a sua vida tentando encontrar-se, tentando perceber quem ele era. Para isso foi-se dividindo em múltiplas personalidades, que hoje podem ser contabilizadas em mais de 70. E será que com isso ele alguma vez se encontrou? Será que alguma vez descobriu quem era através da sua contínua "divisão de alma"? Bem, pelo que nos é transmitido neste poema, podemos concluir que não... Fernando Pessoa nunca se encontrou. E baseou portanto a sua vida, numa demanda que aparentemente se mostrou impossível de concluir, impossível de terminar.
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Agora, transpondo um pouco de "Pessoa" para nós, as "Pessoas" que o estudamos, pensemos então: será a sua busca única? Será ela ridícula? Identificar-nos-emos nós com Pessoa que constantemente se tenta encontrar?
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Bem, na verdade, não é única a sua busca. Talvez seja muito característica de Pessoa a intensidade e importância que lhe é atribuída, mas não teremos nós todos um pouco desta curiosidade? Um pouco deste desejo de saber quem somos?
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A verdade é que, ainda que quase nunca pensemos nisso, certamente já todos se interrogaram quem são, ou o que fazem neste mundo. Com toda a certeza que já nos deparámos com esta questão aparentemente simples na sua génese, mas horrivelmente complexa de responder.
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E é pois disto que quero falar, e é neste ponto que ligo a nossa busca pessoal pela identidade ao excerto que apresentei: Fernando Pessoa nunca se encontrou, e nós? Alguma vez nos encontraremos? Alguma vez poderemos dizer com toda a convicção que sabemos quem somos?
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Do meu ponto de vista, tal tarefa é interminável. Digna de Sísifo ou de qualquer outro herói mitológico. Uma tarefa deveras absurda, pois toda a vida podemos procurar, apenas para nos depararmos com um novo "eu", uma nova alma, que muda constantemente. E porquê? Pois cada momento que passa, cada experiência que vivemos muda-nos um pouco. A vida é pois um longo caminho de aprendizagem, no qual estamos sempre a absorver novas informações...
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E é pois um pouco isso que é dito por Fernando Pessoa. Em cada momento por ele vivido sentia-se diferente, sentia-se outro, sentia-se cada vez mais distante de uma resposta à sua pergunta. E se nós também sentimos isso porque continuamos então a procurar a nossa identidade? Se sabemos que não a encontraremos porque buscamos algo que não encontraremos? Porque o ser humano é assim mesmo. Não descansa enquanto não vê as suas questões respondidas, e isso é o que nos mantém vivos, a constante busca por algo, pois no dia em que soubermos tudo, a vida perderá o interesse.........
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O que acham? A busca também se verifica em nós? Será ela inútil? Ou apesar da sua inutilidade ela é inerente à nossa existência? Estaremos nós em constante mudança? Dêem a vossa opinião...
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CB 12ºB

1 comentário:

Anónimo disse...

Carlos, assim que vi as primeiras linhas vi logo que o post era teu... hihi vamos a mais um debate?? hihi

Todos n�s procuramos o nosso "eu"... mesmo que muitos neguem que o fazem.

Tal como F.P., mudamos a cada momento...

N�o sei se � �til ou n�o? Mas o Homem � "curioso", e a instabilidade ou a incerteza n�o nos serve. Mesmo que n�o encontremos (todas) as respostas, procuramos-as.

E porque raz�o tantos (ou todos) procuram se n�o � �til ou n�o faz sentido...?

Catarina
12�E