segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A Liberdade

Seremos nós livres, ou simples escravos?
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«A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.»

Fernando Pessoa, in «Livro do Desassossego»
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Bem... Mais um texto desde grande senhor que, mesmo que tenha sido um esquizofrénico múltiplo, foi um dos maiores génios da poesia... Como ele próprio diz, não interessa a sua vida, ela nada significa, ele é o que escreve e por isso passemos logo para o assunto de que pretendo falar:
Liberdade...
Um conceito muito vago, um conceito muito falado. Pode ser apenas uma palavra sem sentido que escrevemos ou dizemos, no meio de uma conversa, ou pode ser uma fonte de discussão, de debate intenso... Mas, realmente, é algo de que devemos falar: a solidão traz-nos liberdade, mas está-nos na natureza, como animais, o instinto para viver em grupos, em sociedades...
Mas conseguiremos nós esta separação, conseguiremos nós afastar-nos da sociedade desprendendo-nos de tudo e de todos? Ou teremos sempre a necessidade, como diz Pessoa, do dinheiro, gregária, de amor... Pois... valerá a pena uma vida de solidão, mesmo sendo uma vida realmente livre? À semelhança de um cavalo alado, que é livre de conquistar tanto os céus como a Terra, também ele possui essa liberdade, mas se for separado dos seus semelhantes, se ficar sozinho no mundo, sem ninguém, ele acaba por morrer...
O mesmo não acontecerá connosco? Se nos separarmos de todos, vivemos uma liberdade verdadeira, mas a que preço? Trocaremos uma vida de escravidão amada e sentida, por uma vida de liberdade em que a alma definha, e morre?
Beijo,
CB

1 comentário:

Anónimo disse...

Vem ai o milagre: concordei com o que disseste. :) Mesmo.

Gostei do post, está muito giro.

=)

beijinho