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“Felizmente há Luar” é hoje um clássico da literatura dramática portuguesa. Com esta peça e o “Render dos heróis” de José Cardoso Pires dá-se início a uma corrente de teatro narrativo de influência Brechtiana que na segunda metade do século XX veio a ter seguidores em Portugal, entre os quais se contam Romeu Correia, Bernardo Santareno, Fernando Luso Soares, Helder Costa, etc.
A partir da obra de Raul Brandão “Vida e Morte de Gomes Freire” Luis de Sttau Monteiro mostra-nos o reino de Portugal sob o domínio dos ingleses que ocuparam o país no seguimento da vitória sobre as invasões francesas. A ditadura de William Beresford, o “aliado” ocupante, serve a Sttau Monteiro para mostrar os mecanismos de denúncia e traição que os regimes ditatoriais sempre fomentam e assim aproximar aquele período do século XIX da ditadura de Salazar sob a qual viveu.
A obra escrita em 1961 aproxima Gomes Freire de Andrade de Humberto Delgado, candidato da oposição a Salazar, que como o primeiro acaba assassinado pelo regime a que se opôs.
A peça faz assim, tal como o teatro fez sempre, uma transposição de tempos. Mostra-se o que se passou para que todos compreendamos melhor o que se passa. Assim fizeram os trágicos gregos indo buscar matéria à Guerra de Tróia e ao ciclo Tebano, assim fez Shakespeare indo estudar as crónicas dos antigos reis, assim fez Kleist, Victor Hugo, assim fez Brecht, Heiner Müller, etc, etc.
No início, a peça mostra-nos o ambiente que precede a revolta que, a triunfar, trará de volta o rei D. João VI a Portugal e promulgará uma monarquia constitucional. Intrigas, denúncias, mas também o povo esperançado a avançar na sua luta. O ritmo é rápido, através do qual são apresentados os vários grupos sociais que estão em jogo e termina com a prisão de Gomes Freire de Andrade.
Segue-se o desânimo geral devido à prisão do General. Tal como no tempo de Salazar a polícia actua sobre os civis evitando que a revolta se propague. Matilde, a mulher de Gomes Freire de Andrade, (interpretada no espectáculo por Maria do Céu Guerra) personagem que embora tendo existido realmente, é na peça romantizada e enfatizada pelo autor que lhe confere o papel da corajosa protagonista que tudo arrisca para salvar o “seu herói” com quem partilhou amor, vida e convicções durante muitos anos. O ritmo deste acto é mais lento, mais trágico, mais belo. Tudo caminha para a fatalidade. O herói será sacrificado. No fim só nos resta esperar que o heroísmo do grande patriota dê frutos e exemplo na resistência à tirania.
No silêncio o povo avança…
Maria do Céu Guerra
O Intelectual e o seu Tempo
Há peças que marcam uma época. É o caso de “Felizmente há luar!” de Luís de Sttau Monteiro.
Foi escrita nos anos de brasa que foram o início dos anos 60 e no rescaldo da burla eleitoral que entronizou o medíocre marinheiro Américo Tomás no posto de Presidente da República roubando ao povo português a sua indiscutível escolha, o general Humberto Delgado.
A peça foi publicada e alcançou grande êxito, aliás previsível, dado o paralelismo entre a perseguição ao general Gomes Freire de Andrade e ao general que tinha entusiasmado o país anunciando que “Obviamente” iria demitir o Presidente do Conselho se fosse eleito.
Claro que a Censura proibiu a sua exibição e o autor passou a sofrer o anátema de ser anti-regime, venerado, atento e obrigado.
A resposta de Sttau Monteiro foi clara e sem equívocos. Não perdeu a arma que era a sua pena e não abrandou a luta nem a coragem.
E, por isso, teve a normal resposta do ditador Salazar: perseguições e prisão.
É bom lembrar a acção exemplar deste género de intelectuais, hoje espécime raro em Portugal e no mundo dito civilizado.
Na linha de Zola, Romain Roland, Stefan Zweig e tantos outros, era um intelectual comprometido com o seu tempo.
Helder Costa
Pode consultar aqui o guião pedagógico do espectáculo feito em parceria com o Ministério da Educação
Ficha Artística e Técnica
Texto Luis de Sttau Monteiro
Encenação: Helder Costa
Elenco: Maria do Céu Guerra, Jorge Gomes Ribeiro, Luis Thomar, Pedro Borges, Rita Fernandes, Ruben Garcia, Sérgio Moras, Sérgio Moura Afonso, Susana Costa
Figurinos: Maria do Céu Guerra
Adereços: Luís Thomar
Luminotecnia: Fernando Belo
Sonoplastia: Rui Mamede
Apoio Técnico: José Carlos Pontes
Relações Públicas e Produção: Elsa Lourenço
Secretariado: Maria Navarro
Costureira: Inna Siryk
Montagem: Mário Dias
Bilheteira: Sandra Filipe, Hugo Quinta
Cartaz: Rita Lello, Elsa Lourenço
Fotografias: Tânia Araújo / MEF
Fotografia Cartaz: Uwe R. Zimmer